A partir
do artigo de opinião abaixo, estudaremos os seguintes elementos desse gênero:
Questão
polêmica
Vozes
presente no artigo de opinião
O esquema
argumentativo: introdução, desenvolvimento, conclusão
Depois da
leitura do artigo, leia com atenção os argumentos usados para a defesa da tese.
Veja como eles foram organizados pelo articulista.
Os argumentos são elaborados a partir da contestação
das posições do “senso comum” e dos “conservadores” em favor do voto
facultativo.
Resumidamente, envolvem os seguintes passos:
com base em informações históricas, o jornalista contesta a tese de seus
opositores, de que o voto facultativo corrigiria distorções como o curral
eleitoral (§1); e afirma que “sendo obrigatório ou facultativo, o voto pode se
tornar mercadoria”. Portanto, a explicação para a existência dos currais
eleitorais não pode ser a obrigatoriedade do voto: “A coerção que encurrala
eleitores é de outra natureza e tem a ver com o peso do poder econômico” (§2).
Com base nessas ideias, Léo Lince desenvolve
uma série de argumentos capazes de justificar sua defesa do voto obrigatório:
a) A “liberdade” de não comparecer às urnas é
uma “falsa conquista, baseada em perigoso conceito de liberdade individual, que
pode comprometer a realização do princípio republicano da soberania popular”.
b) O voto não é apenas um direito duramente
conquistado, mas um dever que, não sendo cumprido, descaracteriza o direito de
votar. A democracia não é apenas um meio, mas um fim em si mesma. “Para que o
sufrágio continue universal, para que todo poder emane do povo e não dos donos
do poder econômico, o voto, além de um direito, deve conservar a sua condição
de um inarredável dever civil”.
c) A proposta do voto facultativo desloca o
eixo da questão: “a consagração da alienação política como um direito legal
interessa aos conservadores. Reduz o peso da soberania popular e desconstitui o
sufrágio como universal”.
d) “Ganha com a mudança quem deseja o povo
como ‘maioria silenciosa’, gigante adormecido, aglomerado de consumidores”.
Assim, “a redução da universalidade do sufrágio se expressa como exclusão
social e elemento efetivo de cristalização do poder nas mãos da ‘classe
política’”.
e) “No quadro brasileiro atual, o voto
facultativo é uma das faces (a mais simpática) da investida conservadora”.
“Para o cidadão ativo, (…) a liberdade de não ir votar é [portanto] uma
armadilha”.
EM DEFESA
DO VOTO OBRIGATÓRIO
Léo Lince
Correio
Cidadania
29/05/2015
Existe,
no senso comum, um mal-estar em relação ao voto obrigatório. Toda obrigação
incomoda. Este fato, indiscutível, favorece os defensores do voto facultativo,
que ademais apresentam sua proposta como expressão da postura libertária e como
fator de desmonte de algumas distorções que, de fato, existem em nosso sistema
eleitoral.
O
"curral eleitoral" e a compra de votos seriam distorções eliminadas
pelas simples presença do voto facultativo. Falso. Na República Velha, o voto
era facultativo e os currais proliferavam. O voto obrigatório foi implantado na
década de 30 e os curais continuam a operar até hoje. Ou seja, sendo
obrigatório ou facultativo, o voto pode se tornar mercadoria. A coerção que
encurrala eleitores é de outra natureza e tem a ver com o peso do poder
econômico. O quadro atual, marcado pelo desencanto com a política e pela
descrença no voto como instrumento de mudança - elementos que favorecem a
cristalização do poder de quem já está por cima - também joga água no moinho
dos que defendem o voto facultativo.
Apresentado
como uma vitória da liberdade, o voto facultativo se recobre com as feições
sedutoras da rebeldia. Desobrigado de votar, o indivíduo ficaria mais “livre”
ao deixar de “perder” aquele pedaço do dia em que, de dois em dois anos,
comparece na sessão eleitoral. Falsa conquista, baseada em perigoso conceito de
liberdade individual, que pode comprometer a realização do princípio
republicano da soberania popular.
O voto,
para os que defendem sua obrigatoriedade, além de um direito duramente
conquistado, deve ser considerado um dever, sem o exercício do qual aquele
direito se descaracteriza ou se perde. A liberdade e a democracia não são
meros meios, são fins cuja permanência depende da eterna vigilância e do
trabalho continuado de seus defensores. Logo, quem vive numa comunidade
política não pode estar desobrigado de opinar sobre os seus rumos.
Essa é uma ideia que vem de longe, dos tempos da Revolução Francesa,
ancorada em formulação de Jean-Jacques Rousseau. Segundo ele, o cidadão só pode
ser o soberano da política se ao mesmo tempo for "escravo" do
processo que constitui a "vontade geral". Ou seja, o poder
político só emanará do povo se o povo participar da política. Nada contra a
desobediência civil ou demais formas de protesto político que vão além do
momento eleitoral. A insatisfação contestatória, aliás, também pode se
expressar no voto nulo, cuja tecla deveria constar na máquina de votar.
O voto
facultativo desloca o eixo da questão. Com ele, o direito de votar e o de
não votar ficam inscritos, em pé de igualdade, no corpo legal. Uma parte do
eleitorado deixará voluntariamente de opinar sobre a constituição do poder
político. O desinteresse pela política e a descrença no voto serão registrados
como mera “escolha”, sequer como desobediência civil ou protesto. A consagração
da alienação política como um direito legal interessa aos conservadores. Reduz
o peso da soberania popular e desconstitui o sufrágio como universal.
Ganha com
a mudança quem deseja o povo como “maioria silenciosa”, gigante adormecido,
aglomerado de consumidores, nunca como titular soberano e organizado do poder político.
Nos EUA, onde o voto é facultativo, a abstenção eleitoral é enorme e tende a se
perpetuar, ao longo do tempo, nos mesmos grupos sociais e étnicos,
especialmente entre os discriminados socialmente. A redução da universalidade
do sufrágio se expressa como exclusão social e elemento efetivo de
cristalização do poder nas mãos da “classe política”.
No quadro
brasileiro atual, o voto facultativo é uma das faces (a mais simpática) da
investida conservadora. O "estado mínimo" da macroeconomia
neoliberal demanda, para o seu bom funcionamento, a teoria da representação
mínima. Encolher o tamanho do eleitorado com o voto facultativo; reduzir o
número de partidos com a cláusula de barreira; eliminar parte dos votos válidos
com o distrital-majoritário. Querem reduzir a participação política, eliminar
partidos e esterilizar o voto da oposição contestadora.
Para o
cidadão ativo, que além de votar se organiza para garantir os direitos civis,
políticos e sociais, o enfoque deve ser inteiramente outro. A liberdade de não
ir votar é uma armadilha. O tempo dedicado ao acompanhamento continuado da
política não deve se apresentar como restritivo da liberdade individual. Pelo
contrário. É compromisso livre com a democracia participativa, indispensável ao
exercício pleno de todas as liberdades, inclusive as individuais. Para que o
sufrágio continue universal, para que todo poder emane do povo e não dos donos
do poder econômico, o voto, além de um direito, deve conservar a sua condição
de um inarredável dever civil.
CORREIO,Cidadaniahttps://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10806:submanchete290515&catid=13:leo-lince&Itemid=87.
CONHECENDO A ESTRUTURA E
CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO “ARTIGO DE OPINIÃO.
1.
A questão polêmica a que o artigo pretende responder é:
A.
A liberdade de não ir votar é uma armadilha?
B.
O voto obrigatório favorece o curral eleitoral?
C.
Os brasileiros não sabem votar?
D.
O voto deve ser obrigatório?
E.
O voto obrigatório restringe a liberdade do indivíduo na sociedade?
2.
A tese defendida pelo articulista do texto acima é:
A.
“O voto, além de um direito, deve conservar a sua condição de um
inarredável dever civil”.
B.
Ganha com a mudança quem deseja o
povo como “maioria silenciosa”.
C.
O desinteresse pela política e a descrença no voto serão registrados
como mera “escolha”.
D.
“O voto facultativo se recobre com as feições sedutoras da rebeldia”.
E.
“A liberdade de não ir votar é uma armadilha”.
3.
Uma das características do artigo de opinião é apresentar vozes
contrárias à tese do articulista. Identifique partes do texto em que isso
ocorre.
4. Há uma opinião do autor em:
A.
Essa é uma ideia que vem de longe, dos tempos da Revolução Francesa,
ancorada em formulação de Jean-Jacques Rousseau.
B.
O voto, além de um direito, deve conservar a sua condição de um
inarredável dever civil.
C.
Na República Velha, o voto era facultativo e os currais proliferavam.
D.
Nos EUA, onde o voto é facultativo, a abstenção eleitoral é enorme.
E.
O voto obrigatório foi implantado na década de 30.
“O quadro atual, marcado pelo desencanto com a
política e pela descrença no voto como instrumento de mudança - elementos que
favorecem a cristalização do poder de quem já está por cima - também joga água
no moinho dos que defendem o voto facultativo. ”
5. ( L P.Truques e Táticas)O
último período do trecho acima traz uma característica do artigo de opinião
usada pelo articulista como estratégia para fortalecer a sua argumentação.
Trata-se da
A. Voz do opositor
B. Ênfase da questão polêmica
C. Apresentação de provas
D. Tese
defendida
E. Exemplos como
estratégia argumentativa
6.( L P. Truques e
Táticas)”também joga água no moinho dos que defendem o voto
facultativo.” Considerando o sentido da expressão em destaque, percebe-se
que a sua função é
A. fortalecer a não
obrigatoriedade do voto, ideia defendida pelo articulista
B. Fortalecer o voto
facultativo, ideia com a qual o articulista não concorda .
c. Exemplificar pontos
positivos do voto facultativo
D. Enfatizar a não
obrigatoriedade do voto como liberdade de cada indivíduo.
E. Mostrar um
posicionamento que vai ao encontro da tese defendida no artigo.
7(LP.Truques e Táticas).Para que o
sufrágio continue universal, para que todo poder emane do povo e não dos donos
do poder econômico, o voto, além de um direito, deve conservar a sua condição
de um inarredável dever civil.
O primeiro e
segundo período do fragmento acima indicam circunstância de
A.
Causa
B.
Consequência
C.
Finalidade
D.
Conformidade
E.
Proporcionalidade
8. Caso você fosse
contrário a tese do articulista, qual seria o seu principal argumento para
contestá-la.
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