Sobre o ouvir
O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber,
não com a cabeça mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que
nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos,
implica reconhecer que somos meio cegos… Vemos pouco, vemos torto, vemos
errado.
Bernardo Soares diz que aquilo que vemos é aquilo que somos.
Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso
próprio rosto refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós
mesmos. Não somos o umbigo do mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não
somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos
dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que
provisoriamente, as nossas opiniões.
Minhas opiniões! É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a
expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso,
trocaria meus pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que
me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa
educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é
verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de
falar para que eu, então, diga a verdade.
A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está
dizendo, que é diferente do que penso, depois de terminada a sua fala eu
ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas
isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta
rápida quer dizer: “Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça a mim mesmo. Não
vou perder tempo ruminando o que você disse. Aquilo que você disse não é o que
eu diria, portanto está errado…”.
(ALVES, Rubem. Sobre o
ouvir. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.)
1.(L.P.Truques e Táticas)O
texto discute que ouvir genuinamente exige o reconhecimento de que "não
somos o umbigo do mundo". Sobre isso, analise as alternativas abaixo e
escolha a correta:
a) Reconhecer que não somos o
centro do mundo implica negar totalmente nossas próprias opiniões em favor das
opiniões dos outros.
b) Ouvir genuinamente envolve suspender momentaneamente nossas opiniões para
compreender as perspectivas alheias, sem necessariamente abrir mão delas.
c) Colocar entre parentes nossas opiniões significa abandonar nossa identidade
para adotar a visão do outro.
d) O verdadeiro ato de ouvir depende exclusivamente da capacidade de silenciar
enquanto o outro fala.
e) Não somos o umbigo do mundo porque nossas opiniões são irrelevantes para o
diálogo.
2. (L.P.Truques e Táticas) O
autor aponta que uma resposta imediata em um diálogo é um sinal de que não
houve verdadeira escuta. Assinale uma alternativa que melhor explica essa
ideia:
a) A resposta imediata
demonstra que o ouvinte já estava preparado para refutar a fala do outro,
desconsiderando o conteúdo do que foi dito.
b) O silêncio que antecede a resposta imediata é um gesto educado, mas sem
intenção de reflexão.
c) Ouvir realmente exige paciência e uma análise detalhada das palavras do
outro antes de responder.
d) Tanto a resposta imediata quanto a ausência de resposta indicam uma
comunicação ineficaz.
e) O tempo de resposta não influencia a qualidade da escuta, mas impacta a
dinâmica do diálogo.
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(L.P.Truques e Táticas) A partir do texto, o autor argumenta que ouvir
genuinamente exige humildade e disposição para se abrir ao ponto de vista do
outro. Explique, com base no texto, como o ato de ouvir pode ser uma forma de
superar o “círculo fechado de nós mesmos”.
4.( L.P.Truques e Táticas)) No texto, o autor sugere que, muitas vezes, o
silêncio durante a fala de outra pessoa não é um verdadeiro ato de escuta, mas
uma espera para expressar nossas próprias opiniões. Com base nesse argumento,
analise como a atitude descrita impacta o diálogo e a troca de ideias.
5(L.P.Truques
e Táticas) Bernardo Soares é citado no texto com a ideia de que "aquilo
que vemos é aquilo que somos". Relacione essa ideia com a dificuldade
mencionada pelo autor de que “não somos o umbigo do mundo” e explique como essa
percepção pode influenciar nossa capacidade de compreender diferentes
perspectivas.